terça-feira, 26 de outubro de 2010

Gênese de uma Mulher Feia

"As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental."
[Vinícius de moraes, e olha que ele bebia...]
Há aproximadamente 3 bilhões e meio de anos, a Terra era um lugar quente e inóspito. Porém, todas aquelas tempestades, tormentas e descargas elétricas puderam desencadear, sobre o oceano primordial de moléculas que existia na sua superfície, a origem do que chamamos vida.
Hoje em dia, em bares de quinta categoria, podem ser fielmente reproduzidas as condições essenciais para a origem da vida. A atmosfera desses ambientes, por exemplo, é idêntica à da Terra primordial: Vapor de Água (H2O, presente na exalação dos suores de bêbados que não tomaram banho), Gás Carbônico (CO2, da respiração dos mesmos e também da fedida fumaça dos cigarros, que felizmente diminuiu bastante, graças à lei antifumo), Amônia (NH3, encontrado na urina dos banheiros, sem lavar há décadas) e, finalmente, o Metano (CH4, componente dos peidos, perdão, flatulências desses heróicos frequentadores).
Some-se a isso as descargas elétricas, emitidas por uma lâmpada fluorescente com mau contato, daquelas que ficam piscando intermitentemente, à eterna espera de serem trocadas. Pronto. Estão criadas as condições para um novo Gênesis. Mas cuidado: nem sempre o que é criado ali pode ser coisa boa.
Relatos desses frequentadores (não me incluo) comprovam fenômenos de geração espontânea de estranhos seres, que acordam com você e desaparecem no dia seguinte, sem deixar rastro.
É sabido que a cerveja, bebida muito consumida nesses bares, resulta da fermentação do amido presente na cevada, pelo fungo Saccharomyces Cerevisiae. Pois bem. O indivíduo, ao consumi-la e sem perceber, baba parte dela sobre suas roupas, quer por desatenção em segurar o copo (resultado do efeito da ingestão do álcool), quer por dificuldades de "prrrrrronúncccccia" numa discussão mais acalorada (pelo mesmo motivo). Essas moléculas, ali se acumulando, com a presença dos gases que mencionei e das descargas elétricas, (e com a ajudinha extra do Saccharomyces) podem desencadear um fenômeno bastante estranho, que o pobre indivíduo só percebe na manhã seguinte.
Acontece que tais descargas elétricas, atuando sobre os aminoácidos acumulados na roupa do rapaz, geram coacervados*, que vão se aglutinando até formar células elementares, depois aglomerados mais complexos. O processo evolutivo ocorre à maneira de Darwin**; porém, por alguma razão que desconhecemos, é espantosamente acelerado: em vez de durar milhões de anos, como de costume, demora apenas algumas horas, cerca de sete ou oito - justamente o tempo de sono da vítima. Estudiosos acreditam que o fungo Saccharomyces acelera o processo, o que o torna similar a um tipo de fermentação.
Um amigo meu (sim, pessoal, era um amigo meu, viram?) acordou no seu apartamento, pela manhã. Após perceber a sensação dolorosa da ressaca, mesclada com o alívio de estar no aconchego do seu lar, olha para o lado na cama e percebe uma coisa horripilante. Um ser, quase que disforme, lembrando uma imagem humana, mais especificamente, feminina, que para simplificar chamaremos de uma mulher. O ser dá o que parece ser um sorriso e balbucia algumas palavras:
- Bom dia meu amor... Foi bom para você?
O pobre homem fica paralisado. O que é que pode ter acontecido, pensa. Imediatamente, ele entra em suas roupas, pega a mulher e a leva para o carro, saindo de lá sob os olhares jocosos dos porteiros do prédio. Logo após, abandona-a em algum lugar distante. A mulher se desmaterializa logo após sair do carro.
- Menina, tu é tão feia que tu não nasceu, tu fermentou! (sic) - Pensa o pobre rapaz, aliviado.
Não bebam. Mas se beberem, não dirijam. Nem paquerem.
***


Glossário:

[* Coacervados - um aglomerado de moléculas proteicas envolvidas por moléculas de água, em sua forma mais complexa. Essas moléculas foram envolvidas pela água devido ao potencial de ionização presente em alguma de suas partes. Acredita-se, portanto, que a origem dos coarcevados (e consequentemente da vida) tenha se dado no mar.
Fonte: Wikipedia
[**Charles Robert Darwin FRS (Shrewsbury, 12 de Fevereiro de 1809Downe, Kent, 19 de Abril de 1882) foi um naturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual[1]]
Idem Ibidem

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Meteoro da Paixão

Há 65 milhões de anos atrás, segundo os teóricos, um grande cometa ou asteróide atingiu a Terra num impacto que gerou um cataclisma de dimensões globais e catastróficas, como um protoapocalipse dos tempos pré-históricos. Esse cataclisma, entre outras coisas, deu causa à extinção dos dinossauros, o que, segundo alguns acreditam, possibilitou o surgimento da espécie humana, muitos milênios mais tarde. (Não. Ao contrário de Flintstones, Família Dinossauro e outras séries de TV, homens e dinossauros não conviveram. E ao contrário de alguns exegetas bíblicos desocupados, a Terra não tem só 10 mil anos de idade.)

Amo música sertaneja.

Sim, desde que, por "sertaneja" se entenda a música do campo, com temas bucólicos e relacionados à Natureza. Esse tipo de música, no entanto, por uma questão de marketing e terminologia, passou a ser chamado de "música de raiz" e está meio fora de moda.

Moda que, no momento, consiste no famoso Meteoro da Paixão. Essa é a música sertaneja dos padrões atuais.

Mas o que esse Meteoro tem a ver com o anterior?

Tome como exemplo uma música sertaneja qualquer. Não precisa ser do Luan Santana. Para qualquer uma delas, podemos obter uma repetição finita das palavras "meteoro da paixão", dentro de certo ritmo, que se encaixa nela.

O axioma matemático principal é, então:

A.1. Toda música sertaneja é linearmente conversivel em uma sequência infinita de meteoros da paixão.

Disso resulta também um corolário:

C.1. Se determinada música é linearmente conversível em uma sequência finita (ou infinita) de meteoros da paixão, então ela é sertaneja.

Por "linearmente conversível" entende-se passível de uma transformação em que toda a letra é substituída, com certo ritmo, nas palavras-chave citadas, repetidas indefinidamente, sem prejuízo nenhum para a musicalidade, como numa máquina de karaokê para analfabetos. Mire-se no exemplo do trecho abaixo (cada barra representa uma batida entre as frases ou divisão silábica) :

Borboletas (Victor e Leo, por Victor Chaves, 2007)

(...) Não sei di-zer, /-/ / o que mu-dou / - / / / / / mas na-daes / -tá / i- gual / / / Nu-ma noi-tees- / tran- / haa - / gen- /te se es tran- hae fi-ca mal (...)

Ao invés de cantar assim, você pode cantar simplesmente, no mesmo ritmo:

me-te-o-ro da pai-xão me-te-o-ro da pai-xão me-te-o-ro da pai-xão me-te-o-ro da pai-xão me- te- o- ro da pai-xão me-te-o-ro da pai-xão (...)

Que dá na mesma.

E isso, pelo teorema da indução finita, vale para todas as músicas sertanejas.

A conclusão a que chego é que, a cada 65 milhões de anos, cai um meteoro sobre a face da Terra, de dimensões colossais. O último destruiu os dinossauros; este agora - o da paixão - corre sério risco de destruir a raça humana.

É isso.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cacimba Quântica?

Oi, pessoal.

Depois da derrocada do Alfândega do Fim do Mundo (que não apaguei, aliás nada apago nesta vida; lá haverá mais inserções, só não sei quando) resolvi fazer algo mais informal, consequentemente menos formatado e, por conseguinte, mais politicamente incorreto.

Algo mais ao meu estilo.

Mas vocês devem estar se perguntando o que o maluco do Joeldo quis dizer com essa expressão "cacimba quântica".

Em Física Quântica, um poço quântico é um encontro de materiais semicondutores que funciona como uma "armadilha", como um poço, que prende o elétron e o segura dentro dele. Então ele forma lá dentro uma onda estacionária (assim como o som da nossa voz, que ecoa repetidas vezes quando falamos dentro de um poço) e devido à natureza quântica do elétron, eventualmente ele escapa do poço, mesmo sem ter energia suficiente para sair dele.

Esse processo pode produzir luz e é usado em LED's e emissores de Laser.

E o que tem isso de interessante ou útil? Bom, a sorte e a inteligência são nossas aliadas e podem nos ajudar a escapar de armadilhas sem saída. Se isso é algo que acontece corriqueiramente na Física Quântica, também pode ocorrer no mundo real. Eu vi essa analogia no fenômeno. Mas perdoarei àquele leitor que não enxergar correlação coisíssima nenhuma entre o mundo quântico e o real.

Mas o mundo quântico não é real?

Depende do que entendemos por "realidade". Se é aquilo que podem apreciar os nossos sentidos, então estamos bem longe dela. O tecido da realidade é feito de fios que não podemos ver, nem tocar - são as forças de interação atômicas e subatômicas.

A colher não existe. A armadilha, frequentemente, também não. Apenas pensamos estar nela.

Em tempo: "cacimba" é uma palavra que vem do dialeto Kimbundo (ki'xi'ma) e em várias regiões de Angola e do Brasil (incluindo o Ceará de onde vim) significa simplesmente "poço de água". Foi meu jeito de nordestinizar a Mecânica Quântica. Cacimbas, portanto, são coisas muito importantes para a sobrevivência das populações, lá de onde vim.

Evitem, no entanto, cair nelas.

É isso aí.