sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Meteoro da Paixão

Há 65 milhões de anos atrás, segundo os teóricos, um grande cometa ou asteróide atingiu a Terra num impacto que gerou um cataclisma de dimensões globais e catastróficas, como um protoapocalipse dos tempos pré-históricos. Esse cataclisma, entre outras coisas, deu causa à extinção dos dinossauros, o que, segundo alguns acreditam, possibilitou o surgimento da espécie humana, muitos milênios mais tarde. (Não. Ao contrário de Flintstones, Família Dinossauro e outras séries de TV, homens e dinossauros não conviveram. E ao contrário de alguns exegetas bíblicos desocupados, a Terra não tem só 10 mil anos de idade.)

Amo música sertaneja.

Sim, desde que, por "sertaneja" se entenda a música do campo, com temas bucólicos e relacionados à Natureza. Esse tipo de música, no entanto, por uma questão de marketing e terminologia, passou a ser chamado de "música de raiz" e está meio fora de moda.

Moda que, no momento, consiste no famoso Meteoro da Paixão. Essa é a música sertaneja dos padrões atuais.

Mas o que esse Meteoro tem a ver com o anterior?

Tome como exemplo uma música sertaneja qualquer. Não precisa ser do Luan Santana. Para qualquer uma delas, podemos obter uma repetição finita das palavras "meteoro da paixão", dentro de certo ritmo, que se encaixa nela.

O axioma matemático principal é, então:

A.1. Toda música sertaneja é linearmente conversivel em uma sequência infinita de meteoros da paixão.

Disso resulta também um corolário:

C.1. Se determinada música é linearmente conversível em uma sequência finita (ou infinita) de meteoros da paixão, então ela é sertaneja.

Por "linearmente conversível" entende-se passível de uma transformação em que toda a letra é substituída, com certo ritmo, nas palavras-chave citadas, repetidas indefinidamente, sem prejuízo nenhum para a musicalidade, como numa máquina de karaokê para analfabetos. Mire-se no exemplo do trecho abaixo (cada barra representa uma batida entre as frases ou divisão silábica) :

Borboletas (Victor e Leo, por Victor Chaves, 2007)

(...) Não sei di-zer, /-/ / o que mu-dou / - / / / / / mas na-daes / -tá / i- gual / / / Nu-ma noi-tees- / tran- / haa - / gen- /te se es tran- hae fi-ca mal (...)

Ao invés de cantar assim, você pode cantar simplesmente, no mesmo ritmo:

me-te-o-ro da pai-xão me-te-o-ro da pai-xão me-te-o-ro da pai-xão me-te-o-ro da pai-xão me- te- o- ro da pai-xão me-te-o-ro da pai-xão (...)

Que dá na mesma.

E isso, pelo teorema da indução finita, vale para todas as músicas sertanejas.

A conclusão a que chego é que, a cada 65 milhões de anos, cai um meteoro sobre a face da Terra, de dimensões colossais. O último destruiu os dinossauros; este agora - o da paixão - corre sério risco de destruir a raça humana.

É isso.


8 comentários:

  1. Olá Joeldo......

    Bem, de Física Quântica, posso não entender nada mas de música eu entendo sim!!!
    Como estudiosa e apreciadora do assunto, posso dizer que você foi brilhante nas suas conjecturas a respeito desse dito "estilo musical". Poderíamos fazer um arranjo infinito, entrelaçando todas as músicas atuais desse segmento que obteríamos um coro em uníssono. Agora, a parte da humanidade que ainda retém um mínimo de cultura e bom gosto, precisa se precaver e talvez construir abrigos antimeteoros, pois se juntarmos a esse, o meteoro funk e o axé!!!! Deus me defenda! Já podemos observar a catástrofe que isso começa a causar no comportamento humano!!! Por enquanto ainda temos gente como Djavan, Chico, Milton e tantos outros "Senhores da Música" que nos podem manter longe desse perigo todo!!!Que sorte a nossa hein????

    Beijos
    Lygia

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  2. Obrigado, Lygia, pelo comentário.

    Acho que a música que mantém o Universo é rica, elaborada.

    Assim como a vida surgiu pela organização de moléculas simples, em moléculas cada vez mais complexas, a música simples e monofônica do período medieval deu lugar à grandiosidade e polifonia da música clássica, e à complexidade do Jazz. Sei que você entende isso bem melhor do que eu.

    Há, no entanto, essas ondas de simplismo a tentar nos remoldar o cérebro aos padrões primitivos, como uma catástrofe a destruir-nos a ordem cósmica. É preciso muito cuidado.

    Beijos para você.
    Joeldo

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  3. Acho sinceramente que se pode chamar de musica, tudo que é composto de letras, frases e melodia, ou apenas melodia. Porém sou obrigada a concordar que algumas musicas dizem muito mais ao coração, aos sentimentos e nos contam histórias, enquanto outras nada dizem de util. Mas independente de ser moderno ou de raiz, o sertanejo segue o mesmo enrredo. Alguns contam algo, outros não. Concordo com Lygia, sobre os Montros Sagrados da MPB, Djavan, Chico,Milton e outros, mas tbm existe excelentes cantores sertanejos modernos, que o meteoro da paixão não destruiu.
    Beijos
    Ana Luiza

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  4. Ana Luiza,

    A música, na verdade, nem precisa de letras ou frases. Existe a música experimental que, em certos casos, nem melodia apresenta. Mas há quem chame de música.
    Não estou discutindo a arte e sim a riqueza dela.
    As músicas, quando apresentam temas repetitivos, perdem a sua riqueza pela mesmice; a pobreza de harmonia, tema que a musicista Lygia conhece muito bem, produz músicas que vendem muito, mas não dizem nada nem encantam. Muitas músicas sertanejas, infelizmente, se encaixam nesse critério. E isso não se restringe a elas. Há uma vastidão de pobreza musical no mercado fonográfico. Este artigo é simplesmente uma maneira descontraída de descrever o fenômeno.
    Beijão pra vc.
    Joeldo

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  5. Ponderei muito antes de postar meu comentário, pois não faz muito tempo que descobri o universo de musicas boas! Mas Graças a deus, decobri! rsrs
    O texto esta muito engraçado e concordo plenamente com seu teorema da indução finita. Penso que ele é aplicável também a outros segmentos da musica, como por exemplo o axé, o rap, o pagode... Se me permite, o rebolation, o rebolation tion tion pode ser convertido em chicletes com banana hu, chicletes com banana hu hu!! rsrsrsr
    Isso é muito divertido!! Vou divulgar seu teorema por aí!!
    Só vc mesmo para pensar nisto!!!
    beijos

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  6. Olá, Ardicema!

    O Teorema da Indução FInita, um dos pilares da Matemática Superior, foi utilizado como base para equalizar, em particular, toda a música sertaneja, e, em geral, toda a música ruim.

    Excelente seu exemplo, relacionando Chiclete com Banana e Rebolation.

    Assim como Einstein procurou, com sua Teoria do Campo Unificado, explicar todo o comportamento da matéria e da energia, poderemos também fazer o mesmo aqui, elaborando uma Teoria Geral da Música Ruim.

    Beijos
    Joeldo

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  7. Brilhante sua colocação Joeldo e inteligente a aplicação do Teorema de Induçao Finita para a música sertaneja. Assim pude perceber o vazio e ridículo comportamento dos apaixonados por ela. Realmente é preocupante essa falta de qualidade musical dos artistas deste século e mais preocupante ainda o conteúdo duvidoso da multidão de seguidores. Quanta saudade daquelas músicas que reuniam melodia,harmonia, ritmo, e letra inteligente como todas as músicas no mínimo deveriam ter. Essa deficiencia empobrece toda uma nação. Acho que pela música se conhece o destino de um povo. Lulu Santos já dizia - Assim Caminha a Humanidade. Qual será o futuro musical do Brasil? O valor intrínseco da música para cada indivíduo é reconhecido extensamente em muitas culturas. Certamente, cada povo faz do uso de sua própria cultura, uma útil e poderosa ferramenta para expressar suas idéias e ideais. E não é só na música secular que existe essa escassez. Percebo isso também, e de uma forma muito mais absurda na música gospel. A moda agora nesse meio é cantar em todos os estilos, inclusive o sertanejo - A Vingança Santa! Nos últimos álbuns do meio gospel não importa se tem qualidade musical o que importa é dar o recado. Vingança com sabor de mel. Bom, mas esse é um assunto para as autoridades eclesiásticas resolverem.

    Parabéns pelo texto Joeldo.

    Um abraço
    Rosemary Marques

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  8. Obrigado Rose, por seu comentário.
    Realmente a mesmice rítmica é uma doença que contamina todas as vertentes.

    Portanto, nem mesmo o Gospel escapa do bate-estacas melódico.

    Que Deus tenha paciência, e quiçá um tico de compreensão pelos pobres caudilhos a louvar-Lhe de forma tão tosca, lançando-Lhe meteoros de toda sorte.

    E sorte a nossa, portanto, que nada de proporções cataclísmicas ainda aconteceu cá por estas bandas, sinal de que os louvadores daquele naipe têm coincidido de sempre pegar o Criador de bom humor.

    Beijos
    Joeldo

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